Do Risco ao Impacto Positivo: Transformando o Capital em Soluções Climáticas

O planeta está se aproximando de pontos de não retorno, como o degelo da Groenlândia e da Antártida, o recuo da calota polar, a desertificação da Amazônia e o branqueamento dos recifes de corais, em razão das mudanças climáticas extremas. Segundo o estudo recente Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático (PIK), divulgado em 24 de setembro de 2025, 7 dos 9 indicadores de limites planetários foram rompidos.

Os países signatários da Conferência das Partes e do Acordo de Paris têm como missão, na COP30, as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), dez anos após o encontro histórico. O Brasil comprometeu-se a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035, em comparação aos níveis de 2005.

O Roadmap from Baku to Belém, acordado no Azerbaijão, define metas claras e convoca todos os atores globais a colaborarem para aumentar o financiamento climático para países em desenvolvimento, a partir de fontes públicas e privadas, atingindo pelo menos USD 1,3 trilhão por ano até 2035.

Existem recursos disponíveis para este objetivo. Segundo o Global Wealth Report 2023 do banco UBS, a riqueza global total foi estimada em USD 473 trilhões, com previsão de alcançar USD 629 trilhões em 2027, sendo USD 270 trilhões sob gestão privada.

Em setembro, a Aliança pelo Impacto, o UNPRI e o GSG Impact, co-lideraram uma iniciativa internacional para mobilizar capital privado em prol das mudanças climáticas, fomentando o diálogo entre a cúpula de alto nível das Presidências do Brasil e da COP30 e investidores nacionais e internacionais — em sua maioria europeus e asiáticos, signatários do PRI, que juntos gerenciam USD 121 trilhões.

Foram realizadas três mesas de diálogo, sob as regras de Chatham House (que garantem anonimato e promovem debates francos), abordando o desafio de alcançar os USD 1,3 trilhão/ano. Os temas incluíram o Plano de Transformação Ecológica, capital para soluções baseadas na natureza, o Tropical Forest Forever Fund (TFFF) e a mobilização de recursos para Adaptação e Resiliência Climática em economias em desenvolvimento.

Para os investidores, é essencial criar um ambiente regulatório e financeiro mais favorável, capaz de ampliar os investimentos em iniciativas que promovam a descarbonização da economia. Estratégias de redução de risco, como blended finance, first loss e hedging cambial, assim como métricas claras e monitoráveis e títulos com destinação específica em investimentos sustentáveis, são fundamentais para atrair capital de gestores e proprietários de ativos, além da garantia de contratos de compra de carbono e da securitização de ativos.

As oportunidades de investimento também são significativas. Segundo a Climate for Climate, existem cerca de 25 fundos de venture capital voltados à Natureza. O World Resources Institute (WRI) estima que, a cada USD 1 investido em Adaptação Climática, há expectativa de retorno 10 vezes maior em 10 anos; o investimento de USD 133 bilhões poderia gerar benefícios da ordem de USD 1,4 trilhão, com média de retorno de 27%.

Do ponto de vista econômico, é imperativo que o capital privado destinado ao combate às mudanças climáticas cresça significativamente, especialmente em soluções voltadas para regeneração da natureza, combate ao desflorestamento, segurança hídrica e adaptação e resiliência.

O mercado financeiro pode e deve aportar capital financeiro e intelectual, tornando os investimentos mais viáveis e menos arriscados, conciliando o retorno esperado pelos investidores com impactos positivos para o planeta.

Assim, será possível reduzir os efeitos das mudanças climáticas sobre a população, sobretudo os mais vulneráveis, e fortalecer a economia, promovendo a harmonia entre bem-estar humano e sustentabilidade ambiental.

De Monica Pasqualin1

  1. Monica Pasqualin, economista com especialização em Ciências Políticas e pós-graduação em Marketing, Gestão  Social e Sustainable Capitalism & ESG, co-fundou o Instituto Spiralis e é empreendedora e executiva de Impacto há mais de 20 anos. Atualmente atua como líder de Advocacy e Políticas Públicas na Din4mo Lab, co-gestora da Coalizão ECOA liderada pela Yunus Social Business Brazil e ANDE e consultora independente para viabilização de investimentos filantrópicos e de impacto. É membro do Global Governing Council do movimento Catalyst Now, do Comitê de Advocacy da Aliança pelo Impacto e do Comitê da ENIMPACTO. ↩︎
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